terça-feira, 21 de dezembro de 2010

cotidiano




os pardais e o mendigo comiam do mesmo pão
Rua Ramiro Barcelos, Porto Alegre/RS




deu com a mão, não parou, correu até lá, estava recolhendo
Parcão, Porto Alegre/RS




hoje aqui, perdas, chuva, canja da Lancheria, pão e bastante manteiga
Redenção e Lancheria do Parque, Porto Alegre/RS





estas poesias/pensamentos/citações - provavelmente - formarão um conjunto.
são observações do/para o cotidiano; cartografia(s) da(s) cidade(s).
frases, pensamentos, pequenas epifanias, qualquer coisa tangível ou não.




sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

17 DE DEZEMBRO

ontem te esperei.
ontem foi domingo.
e te esperei no sábado,
na sexta,
toda semana.
mês.
ano.
anos.
e você não veio.
 e você não vem.
não me disse nada.
simplesmente saiu,
assim;
sumiu.
sem dizer nada.
nunca disse nada.
e eu não sei.
e eu não soube.
tantos anos.
e você não vem.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

sonhar

a


aprender a coser retalho por retalho
até todas as cores juntas compor uma colcha
                                                                             que eu caiba,
                                                                              e me cubra.




.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

urgência


uma flor nasceu na rua,
é urgente que ela nasça,
impreterível que se instaure,
multiplique.

é necessário fecundá-la.

por drummond.

pelas pétalas.

pelas cores.

do desejo.

para todos.

uma flor nasceu na rua!
façamos completo silêncio.


domingo, 12 de dezembro de 2010

sábado, 11 de dezembro de 2010

morte


quando morrermos seremos todos animais, disse meu filho.
que animal quer ser, pai?
não sei, respondi.
não sei, pensei.
sinceramente, não sei.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

?




ouvir ao som de pouco, in Nome, Arnaldo Arntunes, 1997.
"sempre é pouco quando não é demais"








a manhã será para sempre?
amanhã será para sempre?
será para sempre?
para sempre?
sempre?
sem?
em?







quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

só não se têm o que não se têm!




dedicada a um grande diálogo, que sentou e conversou
comigo ontem e, felizmente, não sei o nome






SÓ NÃO SE TÊM O QUE NÃO SE TÊM





NOVAS DESCOBERTAS





AINDA DESCOBERTAS






domingo, 28 de novembro de 2010

28 DE NOVEMBRO


"As árvores me começam"
                                                                                                                          Manoel de Barros


ele não entendia nada do que ela falava, quase nada, estética-relacional, Foucault, Guatarri, Deleuze, ético-estético, quase nada.
e ela denunciava tudo aquilo com uma paixão, uma volúpia, uma verborragia, assim era ela e ele sorria.
eram lindos, a imagem dela naquela vontade/desejo e dele sorrindo.
se encontraram, no acaso, um amigo em comum e uma mesa.
sentados, riam e riam muito; o riso seria o ponto em comum de ambos, uma alegria contagiante.
ele pouco falava, calado, era adepto das plantas, da terra, das sementes, gostava de sentir o sol e o vento, sabia das coisas pela temperatura da brisa, se choveria? se faria sol? sabia do tempo, cultivava girassóis e calma.
eu estava sentado ao lado e me interessei por tudo aquilo, pelo ético-estético e pelos girassóis.
o que mais chamou a atenção dele foram os ombros dela, os ossos da clavícula saltavam em seus olhos, cabelos curtos revelavam toda a sua beleza.
ele era alto, magro, suas mãos eram ásperas, o sol lhe imprimira muitas marcas, inclusive a leveza.
quando se cumprimentaram e beijaram os rostos um do outro, ela sentiu suas mãos ásperas, mas, também, uma suavidade, a força exata que seus dias pediam.
naquele momento ambos encontraram o equilíbrio em suas diferenças, na potênica que emanavam em e para ambos, singularizaram-se.


...


e eu estive sentado ao lado e me interessei - muito - por tudo aquilo.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

roberta stubs






onde está a cama elástica do meu quintal




?



23 DE NOVEMBRO


... torna-te quem tu és ...
Friedrich Wilhelm Nietzsche           


acordei e fui tomar banho, estava ávido por isto, me sentia desconfortável com a noite que me impregnava sonhos confusos.
saindo, defronte ao espelho, me deparei com ele, o outro.
diante de mim a imagem que via não era minha, era de alguém que não conhecia, nunca havia visto, nem de relance.
quem era?
não sei.
perguntei-lhe o nome.
ele não disse nada, só sorriu.
por quê este sorriso?
estava estupefato, será que aquela imagem era eu?
o outro?
mas eu me conheço, me sei!
vesti minhas roupas, calcei os tênis e saí correndo, precisava me ver novamente.
na rua, fui ao encontro de outro espelho e ao olhar, ele continuava sorrindo!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

vertigem

"...o que permite que a partir de algo que é exterior a mim possa se operar um reconhecimento de mim mesmo..."
"... e é isso o que é importante, reconhecemo-nos em outrem, a partir de outrem..."
Michel Maffesoli, in No Fundo das Aparências





u    l    t    i    m    a    m    e    n    t    e
andocaminhandocomacabeçabaixa
olhandoparaosmeuspés





domingo, 21 de novembro de 2010

21 DE NOVEMBRO

todos os dias ele olhava o celular, normalmente entre 22hs00/22hs42.
inevitavelmente, eram nestes 42 minutos que a ausência dela era quase insuportável.
talvez por ser um pouco antes dele dormir ou, talvez, neste período ele não se concentrava em outras situações, não tinha nenhuma ocupação, além dele com ele mesmo.
enfim, eram os 42 minutos mais difíceis naqueles últimos meses.
e seriam os 42 minutos mais difíceis de todo o verão.
nunca me disseram o por quê da separação.
nunca me disseram muitas coisas.
nem os conheço.
escrevo sem experiência nenhuma destes dois.
sei que seus nomes eram Lúcia e Ricardo.
e sei, também, que somente ele usava relógio.
ela usava - sempre - um anel (muito bonito) e de vez em quando, um par de brincos.
ele olhava o telefone para ver se havia alguma chamada não atendida ou alguma mensagem.
a suspeita de um desejo - ainda - por parte dela.
e nada.
a única mensagem que havia no celular naquela noite era de um amigo do escritório.
e ele não retornaria a ligação perdida.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

SUICÍDIO

- alô, alô, preciso de uma ambulância, é urgente.
- sim, senhor. tenha calma.
- eu preciso imediatamente de uma ambulância.
- o senhor está falando da Rua Cândido Silveira, 243?
- sim. apartamento 06.
- preciso que o senhor responda o ocorrido.
  (ele chorava ininterruptamente, não conseguia responder a pergunta, a atendente insiste).
- senhor, por favor, preciso que o senhor me informe qual o motivo da chamada?
- é suicídio.
- o senhor conhece a vítima?
- sim, sou eu!

domingo, 24 de outubro de 2010

24 DE OUTUBRO (p/ ouvir ao som de menina mulher da pele preta, Jorge Ben Jor)



ela passou,
ela sempre passa,
na mesma hora; não sei se para o trabalho, não sei se para comprar o café-da-manhã ou jornal, não sei quase nada.
o que sei é que ela sempre passa.
e sobre os seus passos acompanham meus olhos, atentos.
à noite, quando durmo e durmo cedo, penso neste pequeno percurso defronte minha janela; penso nela.
esguia, alta, olhos focados, uma doçura e uma calma.

seus passos e meus olhos.
meus olhos e seus passos.

e eu não sei quase nada.

domingo, 3 de outubro de 2010

passagem II

Essa região secreta, essa solidão onde os seres - e as coisas
- se refugiam, é que dá tanta beleza à rua: por exemplo, estou
sentado no ônibus, só me resta olhar para fora. O ônibus se 
precipita pela rua em declive. Sigo bem rápiddo para não ter a
possibilidade de me demorar num rosto ou num gesto, a velo-
cidade exige de meu olhar uma velocidade correspondente,
pois não há nem um só rosto, nem um só corpo, nem uma só
atitude preparados para mim: estão nus.

Jean Genet, in O ateliê de Giacometti.



céu




sexta-feira, 1 de outubro de 2010

godbye my friends

passagem

Chegou a hora...
Estou definhando e ainda tenho que enfrentar as horas...
Seria ótimo dizer que me arrependi... Seria fácil... mas o que isso significa? O que significa se arrepender quando não se tem escolha? É o que se pode aguentar...
Era a morte... Escolhi a vida! e enfim, conhece-la... Ama-la pelo que ela é! E depois descarta-la...
Sempre os anos que foram nossos...
Sempre os anos...
Sempre o amor...
Sempre as horas...
Nicole Kidman em "As Horas"




sexta-feira, 24 de setembro de 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

ler ao som de THE TRUTH (Handsome Boy Modeling School)

sem poesia, somente libertinagem.
andei pensando em ti, safada, puta, cadela e, também, linda, sorrindo e meiga.
queria suas pernas sob meus ombros e seu sexo bem arreganhado.
meu pau extremamente molhado e você pedindo, piscando.
só a cabecinha e ele querendo tudo, sempre e mais fundo.
bater em sua cara, puxar os seus cabelos.
depois sentada em nossa poltrona, com os pés sob os braços.
com teu corpo se movimentando em direção ao meu pau; violentamente.
arreganhada e sedenta, sempre fundo e pedindo mais.
quero - hoje - te deixar aberta, doída, somente comer tua bunda.
por último, de quatro, puxar você pelos cabelos, com força e tesão.
cadenciar o balanço dos nossos corpos com minhs mãos e seu cabelo.
de quatro, mordendo o travesseiro, louca, lasciva.
toda a tua bunda em todo o meu pau.
bastante
denso
fundo
e sempre...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

carlos

d  r  u  m  m  o  n  d
d  r  u  m  o  o  n  d


inefável

HOMENAGEM [poema de CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, in AS IMPUREZAS DO BRANCO]

Jack London               Vachel Lindsay               Hart Crane
René Crevel                Walter Benjamin            Cesare Pavese
Stefan Zweig               Virgínia Woolf                Raul Pompéia
                                     Sá-Carneiro


                           e disse apenas alguns
                           de tantos que escolheram
                           o dia a hora o gesto
                                     o meio
                                     a dis-
                                     solução

terça-feira, 14 de setembro de 2010

silêncio

hoje a tarde fiz a barba!
no espelho, olhando bem dentro dos meus olhos,
a verdade me afrontou,



silenciosa!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

hilda sempre riu



em riste
um  soco
seco

II [poema de Hilda Hilst, in VIA ESPESSA]

Se te pertenço, separo-me de mim.

Perco meu passo nos caminhos de terra

E de Dionísio sigo a carne, a ebriedade.

Se te pertenço perco a luz e o nome

E a nitidez do olhar de todos os começos:

O que me parece um desenho no eterno

Se te pertenço é um acorde ilusório no silêncio.

 

E por isoo, por perder o mundo.

Separo-me de mim. Pelo Absurdo.

13 DE SETEMBRO

18hs00!
desceu do ônibus!
06hs00!
subiu no ônibus!

domingo, 12 de setembro de 2010

pequenas epifanias p/ roberta stubs



NA PENUMBRA TUA SOMBRA SE MISTURA AOS MEUS DESEJOS


...


AMOR. AROMA DA MINHA MANHÃ!


...


SORVER SUAS PALAVRAS, OUVI-LAS EM MIM...


...


NA NOITE ESCUTO TEUS SONHOS!


...


NÓS
DOIS
A   SÓS


9 de 9

.

te

peço

o

pecado

de

me

amar

.

10 DE SETEMBRO

acordou cedo, feliz.
tomou banho, café, pão na frigideira.
seria um dia como todos os outros ou como a maioria.
carteira no bolso, chave também.
saiu apressado, atrasado.
ao atravessar a rua, sem ver ou ouvir, morreu atropelado.