terça-feira, 6 de setembro de 2011

05 DE SETEMBRO (mesmo texto, c/ pontuação)

descarrilhou-se.
nos últimos meses estava em tantos trânsitos, tantas vias, vastas, várias.
havia a que apontava todas às terças-feiras, às vezes, catorze e trinta, outras, quinze, quinze e quinze; mas sempre ali.
pontual, elegante e gentil.
de noite eram outros olhares.
de dia tinha uma senhora que nas tardes que ia ao supermercado, farmácia, isso&aquilo, comentava frases absurdas e ele escutava; num sábado saiu ao encontro desta para ouvir e ouviu.
algumas vezes não saia de casa; era sempre assim, algumas vezes não encontrava convicções que lhe fizesse certezas.
__já era tri fortão naquela época.
__pinicando todo com este encontro.
__antes ele do que ela.
e era sempre ele.
ela, a senhora, comentava sobre um homem.
voltando para casa pensava.
e eu penso sobre este homem que a mulher que comentava frases absurdas comentava.
e este homem e esta mulher são tantas coisas; absurdas ou não.

mas não são destes que contava há pouco.
é sobre o homem - não este, aquele das várias vias.
acho que havia algo sobre descarrilhar-se, meses, silêncio, isso&aquilo, algo sobre a semana (ele gostava principalmente das quintas-feiras).
e havia a que sorria.
seu corpo sorria.

não tinha horários.
nem vestes.
vinha nua.
o cabelo vinha nu.
o rosto dançava leve e o deixava leve e o deixava tenso e o deixava.
haviam tantos trânsitos; teve uma tarde - não lembro o dia - um senhor acho que deveria ter setenta e seis, setenta e sete anos, atravessava a rua e todos olham um senhor de setenta e seis, setenta e sete anos atravessando a rua.
ele também olhou.
e carros e motos e prédios e pessoas e pessoas.
e o senhor de setenta e seis anos atravessando a rua.
mas havia angústia; talvez porque pensava naquele homem; não ele, o outro, e ele, este outro, também, deveria atravessar a rua e teria setenta e seis, setenta e sete anos; talvez menos.
tudo é tão instantâneo.
tudo é tão imprevisível.
e nada o é.
talvez este homem fosse o que a mulher que comentava frases absurdas comentava.
ele a deixou.
ela o deixou.
ambos enlouqueceram.
ele - velho - atravessando ruas.
ela - louca - comentando frases absurdas.
já haviam dito a ele que estas frases não eram absurdas!
contava esta estória com frequência, teve momentos que incluía suas próprias frases e esperava a reação de todos.
(...)

Um comentário:

  1. lindo... eu havia tentado ler ele sem pontuação, mas sem saber onde estavam as pausas, minha ansiedade não deixava respirar. Agora consegui ler inteiro. lindo...

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